não está, em geral, e falo da cabo-verdiana e portuguesa, preparada para conviver com os homossexuais. Ao contrário do Zimbabwe, onde os gays e as lésbicas são espancados fisicamente, aqui as pessoas os injúrias de uma outra: cochicham aos cotoveladas, aponta-os dedos ou desviam a cara com um certo nojo.
Estávamos em pleno Pingo Doce, duas miúdas, bem miudinhas mesmo, na fila como eu e todos aqueles que estavam lá. Um pouco antes, durante as compras, o meu amigo virou para mim e disse: "elas são giras, não são?". Respondi jocosamente: "são mas é sapatonas". Ele admirado perguntou:"como é que tu sabes que elas são lésbicas? Impossível". Ainda mais jocoso, respondi: "ponho as minhas duas mãos no lume". De repente, uma das miúdas que tinha um lado da cabeça rapado, começou a apalpar a outra no rabo, além de roçá-la os piercings dos lábios, da língua e do capuz nas orelhas e pescoço. Aliás, ambas têm piercings por toda a cara. A outra, timidamente correspondeu as carícias com um beijo melado. E bem melado!
Num tom de gozo, virei para o meu amigo e torci os lábios. Ele chegou perto, observando a cena discretamente, disse: "que desperdício!" Abanei a cabeça a concordar.
A reacção do meu amigo não divertiu-me assim tanto como as caras indignadas das avozinhas na fila. Muitos casais heterossexuais estavam a torcer os narizes.
Achei até sexy a cena, o que, confessando o meu "machismo", não acharia caso estivesse dois machos brutos no lugar delas, e embora um pouco exagerado para o ambiente, elas estavam a cagar para os espectadores.
Foi dividido. Foi, foi!