Tendo em conta o factor tempo, fico aqui com as breves notas
em vez de um texto extenso que pensei digitar primeiramente. Por um lado, vamos ganhar porque, confesso, estes dias
não estou com muita vontade para escrever alguma coisa. Então, vamos a elas:
a) Como um cabo-verdiano típico cheguei cerca trinta minutos atrasado
às conferências que foram agendadas para ter início às 16 horas, o que fez com que eu, apesar
da primeira conferência começar depois da hora marcada, perdesse o minuto de
silêncio dedicado à Cesária Évora ( a diva que não deveu nada a este mundo e
nem o mundo a ela. Os santos fazem milagres sempre em casas alheias, portanto, descansa em paz!) .
Mesmo assim, consegui chegar a tempo do que boa parte da plateia mas isto não
justifica a minha irresponsabilidade e desrespeito por aqueles que chegaram a
tempo;
b) A mesa composta por Filinto Elísio, Olavo
Correia, Suzano Costa, Manuel Faustino e João Estevão não deixou dúvidas:
conferências excepcionais!
c) Olavo Correia e João Estevão fizeram análises
nuas e cruas da economia cabo-verdiana, aliás, análises essas deveriam ser feitas
para os nossos jornais online, quem sabe ajudava muito boa gente a tirar os
óculos amarelos e verdes para ver as coisas como elas são. Bem-aventurado o
cabo-verdiano que não tem o windows do pensamento verde ou amarelo. Aqui vale a
pena destacar os conselhos do Olavo Correia em “não comparar a economia
cabo-verdiana com a dos outros países África Subsariana mas sim com outros pequenos países
insulares” e do João Estevão em, acima de tudo, “questionar se temos
a estrutura económica de um PDM”. Não me parece que muitos terão a coragem
de seguir esses conselhos;
d) O Manuel Faustino, sem querer ser mal
interpretado, deixou bem claro que o “mundo sem droga seria droga”. Diria um brasuca
“eu amo esse cara”! Dando razão ao Protágoras, pela sua forma de expor,
comunicar e transformar o complexo em simples, “ora ki nda grande, nkre ser
sima el”;
e) O Filinto Elísio fez uma boa comunicação e possui
uma visão estratégica da cultura cabo-verdiana, o que é de louvar. Pode ser difícil materializar todas essas visões tendo em conta a nossa capacidade técnica e
económica mas fazer da “crioulização, escravatura, reconstrução do Porto Grande
como factor indutora da economia” ou um simples “tirar partido do nosso património
da UNESCO” não são algo descartáveis. Sim, é preciso vender o que é nosso!
A
meu ver o Filinto pecou em ligar a oficialização do crioulo como um factor
necessário à melhoria da qualidade do péssimo português, numa “identidade
esquizofrénica”; por apresentar como um ministro invisível do
Zemas;
f) Suzano Costa como o principal mentor da Tertúlia Crioula está de parabéns pelo árduo trabalho desenvolvido para fincar a
tertúlia na sociedade crioula; os meus parabéns estende a todos os jovens e não
só, que participaram e participam neste projecto e que de uma forma ou outra
contribuem a cimentação da Tertúlia Crioula. Hoje sem dúvidas algumas a
Tertúlia Crioula constitui uma referência para os cabo-verdianos, sendo os ganhos
são vários;
g) À plateia
e participantes: bem haja! Sem falar em relatividades, nem todos são carneiros,
usam óculos partidários ou admiram as cores do arco-íres. Há quem tenha a
consciência da sua ignorância, procuram, lêem ou investigam os fenómenos
físicos e não só, que fazem com que o arco-íres tenha tais cores no espectro visível.
É preciso falar de fotões e da radiação electromagnética? É claro que não! O
mundo continua a ser um grande palco;
h) À organização: os meus parabéns!
i) Em jeito de sugestão/crítica: 1) uma pausa de cinco, dez minutos ou um coffe-break no meio de uma conferência de cinco horas é o mínimo que se
pode fazer para evitar entradas e saídas, aumentar a sua eficiência ou evitar que ela seja massacrante; 2) há sempre aquela tentação para
fazermos as comparações. É normal mas há que respeitar outros movimentos dos cabo-verdianos que surgiram noutros
contextos e que de longe deram excelentes contribuições na cimentação da nossa
cidadania. Hoje a Tertúlia Crioula está na moda, o que virá amanhã?
Imagem: Xan