terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Do Douro vai um beijo...


Estou sozinho no quarto a pensar no que passou, nos momentos que vivemos juntos e felizes conversando sobre temas diversos, até das tretas. Não pude conter as lágrimas a correr no meu pensamento, lembrando a minha aldeia lá no interior da ilha do Santiago, onde corria atrás dos gafanhotos, pastar os animais ou simplesmente sentado na terra "bufa-bufa" cortando as latas do azeite ou da banha de perdigão para fazer os carros. O quarto abafado por esta música melancólica que misturado com cada gota da chuva a bater no telhado lá fora parece uma lanceta a picar o meu fígado, que não sara nem misturado com o barro das paredes velhas da casa da minha avó ao luz do sol que dá cabo das culturas no fundo do vale da Baía.

A calma da Cidade Invicta faz desabrochar de mim, aqui e agora um beijo de saudade, misturado nestas angústias e solidão, esquivando entre os túneis onde estão os mendigos a descansar e roubando a sensualidade das prostitutas na Praça do Marques ou na Rua de Santa Catarina para deitar de mansinho no Rio Douro e despertar lá no porto da minha aldeia. Em forma de maresia, emana, acaricia e deleita o cume da saudade do meu povo.

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4 comentários:

  1. Nada como beijar a pessoa amada com um poema....
    Fizeste-me viajar à minha infância/juventude. Só faltou o prego que solda as latas e as rodas de chinelos ou tampas de botijas de gás.

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  2. Olá Marco!

    Dá para ver que viveste estas maravilhas na infância, por falar em chinelos, lembro-me de levar muitos para a escola dentro da minha "bolsa de ADEGA", escondido entre os livros e cadernos para poder cortar nos intervalos;)

    Abraço

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  3. As minhas efusivas saudações pela beleza estética, literária e sensorial deste texto...
    Obrigado por partilhá-lo connosco!

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