sexta-feira, 29 de julho de 2011

O peso do vazio

"As próprias letras das canções e os respectivos vídeo-clipes são um culto da ostentação oca e bacoca. Meninos de fatos italianos, cheios de penteados (a mostrar que lhes pesa mais o cabelo que a cabeça) e com dourados a pender dos dedos, dos dedos e do pescoço (a mostrar que precisam apenas de mostrar), meninos que cantam pouco e se repetem até à exaustão, fazem o culto deste vazio triste...

Durante anos, o sistema bancário esteve vendendo vazios. Durante esse tempo a arte esteve no empacotar esse vácuo. Esse cultivo da aparência em substituição da substância invadiu as nossas sociedades, no Norte e no Sul do planeta. Esse fascínio pelo brilho exterior estende-se a todos os domínios. Não interessa tanto quem sejas. Interessa o que vestes e como te vendes. Não interessa o que realmente sabes fazer. Interessa a arte de elaborar CVs, de acumular cursos e de te saberes colocar na montra. Não interessa o que pensas. Interessa como embrulhas o pensamento (ou a sua ausência) num bonito invólucro de palavras. Não interessa, no caso de seres governante, como governas e como produzes riqueza para a sociedade. Interessa a pompa e a circunstância. Em suma, o que pesa é o vazio.

Nas artes, o espectáculo tomou conta dessa generalizada ausência de conteúdo. Pouco importa a voz da cantora. Quem escuta a desafinação se ela rebola os quadris com sedução de gata? Quem disse que uma boa cantora tem que cantar? Numa nação em que pouco dinheiro pode salvar vidas, patrocínios chorudos foram aplicados em programas mediáticos de procura do rosto mais bonito, do corpo mais bonito" - Mia Couto. Mais aqui.

2 comentários:

  1. É Mia COuto a dar um recado que há muito está entalado na minha garganta.
    Há dias via o video-clip do Denis Graça de uma "música" que é a repetição até não poder mais de um refrão, misturado com umas miudas bem produzidas. E não é que aquela coisa é um sucesso em CV?
    Mas até agora quem bate o sucesso é o Jason Bibier com a "música" Baby, que o rapazinho tem a coragem de repetir por 54 vezes em 3 minutos e meio. Foi a única vez que ouvi aquilo até ao fim e foi só para contar os baby's.
    Outra coisa que está na moda é mudar a voz no estúdio e depois fazer concertos em playback para enganar as pessoas. Por isso que acho que deveria haver um Ministério qualquer que nos defendesse desses artistas fajudos e sem talento.

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  2. Dai,

    Concordo contigo e com o Mia. A nova moda parece ser esta, fazer-nos uma lavagem cerebral com repetições até gostarmos.

    Por exemplo, detesto a Lady Gaga mas de tanto ouvir as suas musicas por ai, dou comigo cantando as refrões dela.

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