sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pescador de pedra


O sol estava quente. O sol mesmo muito quente, parecia que as pedras andavam a competir entre elas, qual delas reflectiam mais os raios solares. Do lado da aldeia de Baía, podia-se ver claramente a massa do ar quente que percorria a Tomba Baca e toda a achada de Bela Vista. Era como se a Achada Baleia fosse um caldeirão de um minucioso e excêntrico diabo cozinheiro.

No fundo do vale, no porto de Baía, os caranguejos violinistas já não suportavam tanto calor para ficar nos buracos da lama, reuniram-se em vários grupos de dezenas a percorrer a praia. Isso facilitavam o pescadores de pedra a apanha das iscas para a pesca de bodião e outros peixes.

Podia-se sentir a maresia por toda a aldeia e ouvir-se o mar de Alcatraz roncar como se reclamasse a chuva mas nada disso incomodava as crianças que, com as tripas ou outros pedaços de peixes amarrados numa corda e num ramo de acácia, apanhavam as navalheiras que eram assadas, fervidas ou fritadas.

Enquanto isso, João, de cócoras e com a sua oitenta bem amolada na mão direita, segurava um grande bodião com a mão esquerda por entre as guelras e cujo o rabo prendia-se ao dedão do pé direito. Escamava-o minuciosamente de modo a facilitar a tiragem do lodo. As escamas espalhavam por entre as pernas, às vezes, atingindo-lhe os lábios e a sua cara que precipitava o sal e a fome de uma metade do dia sem comer nem beber.

À frente dele, na lagoa, estava uma quantidade significativa de bodiões, taínhas, djalongas, barbeiros e outros peixes.

(Continua...). [Imagem]

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