segunda-feira, 9 de março de 2015

Os caminhos da Regionalização

A minha sensação da leitura

Ao ler o livro Os caminhos da Regionalização ficou a sensação de que, à excepção do texto do Éder Oliveira que defende a regionalização mais no parâmetro económico, os autores defendem e enaltecem "a superioridade intelectual, cultural e social mindelense" no contexto cabo-verdiano. Vale a pena realçar também aqui que conheço o Éder Oliveira pessoalmente e foi ele quem emprestou-me o livro que li durante uma semana em que um bom punhado de textos já tinha lido no extinto jornal Liberal e um blog criado para o efeito e que já não está activo.

Leitura que menos apreciei

Ficou explícito a acusação de que as elites do PAIGC, com destaque para os naturais da ilha de Santiago e em especial os da Assomada, tinha e têm um plano "diabólico" intencional para "minimizar a importância de São Vicente". A meu ver, isso resulta da forma ligeira e bairrista como a situação socio-económica da ilha de São Vicente está a ser tratada e como uma forma reivindicativa para a regionalização - princípio de causa e efeito. Ficou por responder a pergunta: que figura pública, líder do PAIGC, prometeu o ajuste de contas em que Santiago seria ressarcida e que São Vicente seria penalizada? Quem?! Acho que temos esse direito!

Há muitas saudades do Mindelo da "Era do Carvão", uma espécie de retribuição dos estatutos de um Mindelo colonial num Cabo Verde independente, só que... hoje já se fala dos dias que faltam para o fim da "Era do Petróleo". São Vicente é a ilha! Quase tudo foi e aconteceu em São Vicente, dando a ideia de que, ao contrário do que reivindicam, querem o centralismo para o São Vicente - restabelecer a sua condição de segunda capital pág 25 - "berço de quase a totalidade da passada e actual intelligentsia cabo-verdiana". 

Por um lado, exigir a "abertura imediata e sem pré - condições", impondo de antemão um conjunto de medidas a curto e longo prazo, ou seja, um conjunto de condições, é ignorar a Constituição que temos. Nunca é bom radicalizar a posição. Por outro lado, para mim, qualquer discurso que defenda a regionalização e que toma como base as ideias fundamentalistas do Onésimo Silveira - e não me interessa se ele é doutor, seu gabarito intelectual ou seu peso político - é brincar à regionalização. Sendo Onésimo Silveira um dos arquitectos da "República de Santiago" - sim, ele fincou nessa República muitos tijolos -, inclusive apelou o voto dos seus simpatizantes num dos candidatos à presidência dessa República, em troca de um lugar como Embaixador e representante dessa mesma República dos Badius. Que ironia! Ou cinismo?! Uma outra coisa, dá a sensação que São Vicente não tem e nem elegeu qualquer deputado no governo e na oposição. Dá vontade perguntar: como é possível um mindelense - um cabo-verdiano de gabarito sócio - cultural e política xpto - se deixa enganar ou não sabe reivindicar perante outros cabo-verdianos, principalmente os santiaguenses, tão inferior em termos desses atributos?

Ao exigir adopção de uma plena autonomia administrativa, política e económica, o quê que querem dizer com isso? Independência - já agora, é legítimo o termo - de São Vicente? Devemos salientar e agradecer figuras como o Baltasar Lopes Da Silva e a revolução cultural da Claridade já não existe mas seria injusto não dizer que o contexto actual cabo-verdiano é outro e, portanto exige outras respostas. Pensei: a malta não quer a regionalização mas sim a Mindelização.

Leitura que apreciei

Vejo com bons olhos o debate sobre a regionalização, há espaços para o debate e não precisamos de fazer do tema um tabu no seio da sociedade. Precisamos de ser mais assertivos na forma e na exposição. Uma outra coisa que também é certa, se o nosso país é pequeno demais para se regionalizar, não me parece que ele seja assim tão grande para tantos ministérios e secretarias de estado e, ainda por cima, com um presidente e mais outras tantas autarquias. Há espaços para uma resolução já de alguns problemas do centralismo com custos altos para a população. 

Valeu a pena reler e com mais atenção o artigo do Éder em que ele explicou que seria melhor se optássemos pelo modelo ilha-região, aproveitando ao máximo economicamente a especificidade de cada uma delas. Explicou e argumentou aqui(parte I, parte II e parte III). Também ele deixou bem claro que o modelo não é perfeito e que não responde a cem porcento certos anseios. 

Um aparte: 

O Partido Democrático da Juventude e Reconstrução Nacional, PDJRN, é de opinião de que Cabo Verde está homogeneamente, culturalmente e economicamente dividida em 4 (quatro) Regiões - Carlos Fortes Lopes, que devia ter mais atenção com o que escreve.
[imagem]

Sem comentários:

Enviar um comentário