quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O meu herói


Morreu o meu herói, aliás, o nosso herói. Aquele que nos libertou do jugo do colonialismo; aquele que deixou-nos implantado nas roças de S.Tomé e Príncipe; o mesmo que teve a ideia de pensarmos e andarmos por nós mesmos; o mesmo que viu-nos estagnados nas nossas próprias ambições.

O meu herói teve de deixar a sua pátria para curar porque não existe especialistas, máquinas nem equipamentos em condições na sua pátria. O meu herói viu-se a auxiliar no território do seu antigo inimigo para poder ter medicamentos, aparelhos e conhecimentos--se ele soubesse, evitaria tantas perdas humanas naquela luta e negociaria a independência da sua pátria por condições de vida digna ao seu povo.

O meu herói teve de vender/dar a sua pátria ao seu antigo inimigo, em troca de esmolas e migalhas. Viu e sentiu a dor ao ver o seu povo louco para ter a nacionalidade do seu antigo inimigo. No território do seu antigo inimigo, viu o seu povo a viver as mesmas condições de quando partiu para a luta da independência.

Ele viu os seus ministros e conselheiros a refugiar-se no território do seu antigo inimigo por qualquer que seja a constipação. Ele sabia que na sua pátria que tanto lutou para ser livre e independente, morrem pessoas com "doenças simples"*, falta água e luz, crimes e tráficos tornaram-se correntes e o desenvolvimento confunde-se com as médias que, como sempre, ao serviço da hipocrisia política, não são acompanhadas dos desvios, por isso, nunca beneficiou o povo.

O meu herói teve o horror de morrer no território do seu antigo inimigo! Como se fincasse uma estaca no seu coração, teve de engolir alguns peixes pelo rabo e, na hora da despedida, perguntou: Para quê a independência?

*"Doenças simples" entende-se, neste caso, como aquelas que são típicas dos países pobres e que o seu surto, geralmente, não mata ninguém num país desenvolvido.

Imagem:(c) Túnel de Junta de Freguesia de Paranhos, Porto. NokiaE71, mrvadaz 2011.

5 comentários:

  1. Aliás, ao nosso herói hehehe

    Sima ta flado na Soncente, dizá nca oiob;)

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  2. Estou no profundo Santo Antão, sem net nem movel. Em uma semana só viajando de carro por Porto Novo, Ribeira Grande e Paul.
    Estarei no activo na sexta a feira
    ABC

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  3. Nem o seu herói nem os "inimigos" merecem tanto azedume...O estudo pormenorizado da Primeira Republica (de Cabo Verde), ajudará a entender o presente, talvez, como sequelas das opções tomadas numa perspectiva de nacionalismo revolucionário sob o primado da ideologia. Não há progresso económico e social sem um suporte garantido por riquezas naturais ou acesso a finaciamentos que clamam por contrapartidas âs vezes mais pesadas do que os benefíos que geram. A prestação de serviços, sendo um activo estimável, nunca é suficiente, por si só, para equilibrar uma balança de pagamentos que, ao que parece, aína vai buscar àa remessas dos emigrantes parte importante dos seus activos. Gerir a insuficiência não é coisa fácil e nem sempre a culpa é do "inimigo"...
    Zito Azevedo

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  4. Caro Zito Azevedo,

    Entendo perfeitamente, se calhar nem o meu herói nem o seu antigo inimigo merecem, é que às vezes o azedume faz parte;)

    Abc

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