Mas ninguém compreendia o que saía da minha boca.
Quando digo que durmo nesta toca,
Que o vácuo é oco;
Quando mostro insatisfeito,
Quando falo de mim,
Dos ventos
E das saudades,
Alguns pensam que a foca furou o gelo
E que a natureza é perfeita
Para as desfeitas que acontecem.
Quem me dera pudesses
Sentir o respirar do ar que desfiro nas tuas orelhas,
A solidão imprimida na alma tristonha,
E vazio com que o corpo caminha sobre o nada.
Ai, se tu pudesses ver o nada
Que não está encalhado nas palavras!
Só assim perceberias
Que o homem tem lobo
E que o vampiro gosta do sol.
Se pudesse faria-te acreditar
Que o dizer não é o amar
E que o ouves
É o rasgar do sábado
Que nunca chegará ao domingo.
Créditos: Pedro Abrunhosa - Ilumina.