sexta-feira, 24 de abril de 2015

Ainda não


"Valéria Carvalho está a surpreender os cabo-verdianos em Portugal com o à-vontade com que canta e toca batuco ao violão." - ASemana.

Bullshit! - digo eu.

No passado dia 17, sexta-feira, há 7 dias, fui ao lançamento do livro Batuku de Cabo Verde - Percurso Histórico-Musical, de Gláucia Nogueira, na Associação Caboverdeana de Lisboa, como já tinha dito aqui.

Não quis relatar os acontecimentos propriamente da apresentação porque ando ultimamente a ter uma luta interna para evitar ser Vadaz, ou seja, o mandador de bocas. Por isso, para mim, nestas circunstâncias, o mais importante do que o conteúdo do livro em si e a sua apresentação, vale a pena ressalvar o esforço e o contributo da autora na investigação e nos registos para a memória futura. Quer queiramos quer não, o nome Gláucia Nogueira está e ficará para sempre ligado ao batuku por ser a primeiro a ter um registo académico sobre esse género musical de Cabo Verde. 

"Bundalização do batuku" foi a expressão que ficou marcada nessa apresentação.

Durante a apresentação que começou com a declamação de um poema por parte de um senhor que já não me recordo o nome, José Luís Hopffer Almada, um senhor que pareceu-me ser muito simpático, como anfitrião da casa, explicou como é que seria a apresentação do livro. E apresentou a surpresa da tarde: Valéria Carvalho.

A Valéria, muito comunicativa, apresentou-se e, pelos gostos - "Pantera é um génio e gosto do Princezito" artísticos, os mestres e artistas, como o Armando Tito, com quem ela anda cá em Lisboa -, mostrou ser uma interessada pelo batuku. Conquistou a minha simpatia!

Pegou na guitarra - "enfim, estou aqui para cantar e não para falar"- disse ela, logo no primeiro acorde adivinhei que ela ia cantar Batuku do Orlando Pantera. Ao começar: "Nha guenti, dentu cedo, alguém txoman pa nsoma na poial..." cutuquei o meu amigo estava do meu lado esquerdo e disse com todas as letras:

- Vou fingir que não sou cabo-verdiano, que não sou badio do interior da ilha de Santiago e que não sou lá muito interessado pela música para poder escutar esta música.

Aquilo que ela interpretou parecia mais um bossa nova adulterada do que propriamente um batuku a sofrer do pizon que estava nas mãos da Valéria. Um batuku com pouca alma, sem brio, "sem sal" , como disse o meu amigo, sem a ginga do txabeta na guitarra é um ka batuku.

Bem, dito isto, é de salientar o esforço, a simpatia e o interesse da Valéria Carvalho. Afinal, ela é brasileira, está em Portugal e nem sei se um dia ela já esteve em Cabo Verde para inteirar in loco com o batuku, por isso não posso nem é justo exigir tanto dela. Acredito que com o tempo ela chegará lá mas ainda falta algum tempo. E muito tempo.

Por fim, ela interpretou Lua do Princezito que foi melhor do que a primeira música. Não gostei da parte traduzida da música.

3 comentários:

  1. Quando vi esse título todo pomposo...comunicação social também faz-se disso...abri e depois de uma leitura resolvi pesquisar o talento do batuku da Valéria...infelizmente (ou será felizmente) encontrei foi nada (brasileiramente falando). Será que ela irá viajar um dia até Santiago para ter o tal sentimento "in loco"? A ver vamos. Até lá acho que ainda posso me esbarrar por aí com o batuco dela (kkkk).
    PS: não é necessário ser-se do interior de Santiago

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    1. Espero e desejo que ela faça essa viajem ao bem dela e a do batuku; não tenho a mínima dúvida que um dia destes vais esbarrar no batuku dela porque, pelos vistos, o marketing tem estado a fazer muitos candeeiros estrelas. Só espero que não tenhas confundido esse batuku com foró!

      Já agora, arrogância à parte, toco batuku na guitarra e canto melhor que ela. Só que eu não surpreendo ninguém. De facto, não é preciso ser do interior de Santiago, basta ser um cabo-verdiano e/ou pessoa filhos de Santo Ovídio - com bons ouvidos.

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  2. Pois, depois do destaque que ela mereceu no jornal A Semana, ela vai ser convidada a vir à Cabo Verde como convidada especial de alguma noite de música ou de algum festival de música! Vai ser adorada e toda a gente vai falar muito bem de como ela interpreta tão bem o batuku. Vai dar entrevistas na rádio, televisão, jornais, pasquins e jornais online.. o Dai Varela vai escrever um post com muios erros ortográficos sobre ela e o Sapo Música vai postar um especial "Valéria Carvalho" durante um mês com fotos, videos e um concurso para que os/as fans possam ter a chance de ganhar um autográfo. O Djo da Silva vai ficar curioso (a Élida Almeida vai ficar enciumada), o Gugas vai querer um encontro com ela, o ministro da cultura vai convidá-la para um almoço em Cidade Vellha e claro o nosso querio presidente da república, não querendo ficar de fora, vai condecorá-la com a medalha de mérito!

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