quarta-feira, 13 de maio de 2015

À Fátima, com fé


Se eu fosse um ditador, há três coisas dos quais não me prescindiria de usar como instrumentos para o domínio e o controlo da massa: a) religião, para controlar homens, mulheres e crianças; b) futebol, para controlar, sobretudo, os homens e; c) telenovelas, para, obviamente, as mulheres.

Dei comigo a pensar isso ontem, no aeroporto de Lisboa, quando acompanhei um amigo para ir tomar a encomenda de terra num dos fiéis que veio de Cabo Verde para a peregrinação à Fátima. A excursão é chefiado por um tal, e simpático, padre Ima, ao qual chegamos a trocar dois dedos de conversa, e foi recebida por dois padres da ordem franciscana.

Nesse mesmo instante, num aeroporto empilhado de gentes com símbolos religiosos, lembrei-me da fé, da devoção e outras "coisas da fé" dos fies católicos da minha aldeia. Lembrei-me da Capela de Nossa Senhora de Fátima, no Milho Branco, da Maria de Fátima que estudou comigo durante todo o ensino básico, da Fátima que estudou na Escola Secundária de São Domingos comigo, da Lúcia, Jacinto e Jacinta ajoelhados à frente de N. Sra de Fátima num retrato que o meu pai levara de Portugal pendurado na parede da sala onde nós rezávamos quando éramos crianças, das pessoas que iam à nossa casa e comentavam essas imagens e desejos de conhecer a "Fátima antes de morrer" e..., enfim, foram tantas e tantas recordações que até me comoveram.

Quando voltei à terra, ou melhor, à lucidez de um homem meio perdido no seu pensamento, comecei a tentar perceber como é essas simbologias religiosas foram usadas para o domínio dos povos e das massas. Será que é por isso que o marxismo sempre odiou a religião? Sim, a religião, o "tal ópio do povo", foi muito e bem usada pelas várias classes dominantes sobre os oprimidos e não é por acaso que o Império Romano, ao perceber que não conseguia destruir a doutrina de Jesus Cristo, adoptou-o. Hoje temos o cristianismo em todo o mundo nas mais diversas culturas.

Pensei, pensei e cheguei à uma frase brasileira banal: "o bagulho é muito sério!"
[Imagem]

4 comentários:

  1. “Fátima é uma empresa multinacional religiosa” - Padre Mário da Lixa in Expresso 08/05/2015

    Está previsto para breve o lançamento do último livro dele chamado "Fátima S.A.". Estou curioso para saber o que vem escrito no livro.

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    1. Éder eu vou comprar os dois livros. A Fátima mexe comigo, assim como outras "coisas" religiosas.

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  2. O padre Mario da Lixa diz de Fátima o mesmo que, provavelmente, diria de Lourdes, de Aparecida, de Rocio, de Compostela, de Assunção...Locais onde se congregam centenas de milhares de pessoas, suscitam, evidentemente, interesses de ordem económica...Seria, de resto, de enorme cinismo, tentar sequer ignorá-lo...Note-se que o comunismo soviético marginalizou as religiões - o que não lhe trouxe qualquer vantagem - mas os povos russos são extremamente religiosos, como, de resto, os muçulmanos...A fé das pessoas é coisa que transcende qualquer discurso simplista pois se desenvolve a niveis metafísicos a que poucos terão acesso: é o que é, e não aquilo que que os não crentes desejam que fosse...Um padre sem fé, de resto, é um anacronismo...
    Abraço laico
    Zito

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    1. Zito a fé, de facto, transcende qualquer discurso simplista e mexe comigo. Nunca percebi bem o espaço da fé mas percebi, assim como percebo que "nem só do pão vive o homem". De certa forma, creio que o tal padre tem razão.

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