quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Guiné-Bissau, outra vez!


De santo tenho nada, menos ainda de um adivinho, portanto vou dizer uma coisa que cheira ao sacrilégio: a única vez que os bissau-guineenses tiveram sucessos politicamente foi coadjuvado pelos cabo-verdianos.

Sou suspeito para esta afirmação? Muito. Mas, então peço que alguém me contrarie! É que não estou a ver nenhum sucesso político e governativo de um único partido ou presidente nesse país depois do golpe que ditou a separação de Cabo Verde. Com a saída de cena dos cabo-verdianos, sucessões de tragédias sucederam na governação da Guiné-Bissau: do Nino Vieira ao José Mário Vaz/Domingos Simões Pereira, os últimos redutos da esperança, houve golpes e contra-golpes de estados, matanças, esquartejamentos e espancamentos dos presidentes, primeiros-ministros, CEMFAs, ministros, deputados, chefes militares, das secretas etc, etc.

Ultimamente, apesar do cansaço e falta de tempo, tenho segurado bastante para não escrever nada sobre esse país que tanto gosto para não parecer um amigo onça: sempre que escrevo é para "dizer" mal. 

Estou a me lembrar agora do professor bissau-guineense, Julião de Sousa, numa das suas conferências: "engane-se quem pensa que o problema da Guiné-Bissau é militar. O nosso problema é estrutural. Podem fazer reformas militares que quiserem hoje, amanhã teremos os mesmos problemas". Obviamente, ele falou do analfabetismo do país e de muitos deputados, da estrutura desadequada, do modo de funcionamento arcaico e da própria contradição do PAIGC, da Constituição, da Bandeira e do funcionamento do parlamento. Até propôs um modelo com duas câmaras que funciona como o parlamento inglês, em que a Câmara Alta será ocupada por deputados escolarizados que se preocupem com as leis e o funcionamento do país a Câmara Baixa ocupada pelos régulos, anciões e outros que poderão ser menos escolarizados mas que ocupam posições privilegiadas nas tribos e populações. Esses ocuparão de ser consultores aos ditos deputados da Câmara Alta, uma vez que estão directamente em contacto directo com as populações e são pessoas respeitáveis que levarão as preocupações das populações ao parlamento.

A minha pergunta é esta: o PAIGC está interessado nisso tudo? Claro que não porque o status quo caótico, por mais que dói, favorece a esse partido que desde sempre nunca se mostrou minimamente interessado, nem pelo o mais básico das contradições: retirar o nome de Cabo Verde, um país soberano e independente, da sua sigla.

A minha análise é esta: o status quo criado e alimentado pelo PAIGC já se instalou tanto que já se criou na sociedade bissau-guineense, em toda a sua quadrante, uma pequena elite maleável, corrupta especialista,  que vive do caos e das intrigas. Só assim se explica tanta elite e gentes disponíveis para apoiar golpe x e entrar nos governos de transição, de salvação nacional, de iniciativa presidencial, de intrigas pessoais e por aí fora; só isso se explica o Baciro Dja, 3º vice-presidente do PAIGC, ignorando o estatuto do próprio partido, aceitar ser nomeado por um decreto presidencial quase que pessoal; só isso se explica o PRS ter aceite fazer parte do governo de Baciro Dja, assim como o anterior governo de DSP. É sinal de que, por mais que o país precise de um consenso governativo e pode-se fazer isso sem ter que entrar num governo, há gente, no PAIGC, PRS e outros partidos, que já se percebe e é consciente da corrupção, impunidade e o enriquecimento ilícito ao entrar num governo, por isso está disposta a tudo, mesmo que isso significa anos e anos de atrasos para um país. 

Moral da história: ser patriota e nacionalista é ter a consciência da história e do meio onde estamos inseridos, lutando por uma vida melhor e deixar melhor o lugar onde nós estamos; os bissau-guineenses não estão a fazer absolutamente nada disso.

A minha outra pergunta: alguém acredita que a merda já acabou na Guiné-Bissau? Eu digo, a merda só agora é que começou e a porra vai ficar séria!
[Imagem]

2 comentários:

  1. Então isso quer dizer que um dos sonhos do visionário Amílcar Cabral da unidade Guiné/Cabo Verde pode ter algum fundamento?

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    1. José Marcos Soares, bem-vindo! Obviamente, o sonho, ou melhor, as ideias e planos do Amílcar Cabral teve e tem algum fundamento. Por outro lado, como podia não deixar de ser, teve muita ilusão também.

      Abraço

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