quarta-feira, 10 de abril de 2013

Pombo, a eutanásia


Se eu disser aos meus colegas portugueses que por várias vezes já comi pombos na vida, com certeza que ganharia um adjectivo não simpático; também, na minha aldeia, se alguém comer as sapateiras da orgulhosa montra do Continente, ganharia um severo adjectivo, isto para não dizer um novo substantivo.

Estava o Fortunato muito doente por causa de umas moléstias mofinas, Maninho, seu irmão mais velho que estava com a boca do estango mas sustido, recebeu-o em sua casa e começou a tratar dele. Depois de umas idas à cidade da Praia para consultar, passando por umas farmácias, Nate, como era conhecido por todos, começou a apanhar o corpo e a recuperar. Ele estava anteriormente como o cabrito bandofado.

Como pensou que já tinha escapado das doenças, Nate começou a ter os velhos hábitos nos novos tempos: apanhar umas gatas e fumar cigarros o quanto basta, e passando pouco tempo depois ele caiu na cama para pagar a sua culpa. E, pronto, começou penar na cama.

Passando os seis meses com a saúde a degradar todos os dias e a desafiar a morte ali na cama quase apodrecido, aumentou a aflição dos familiares, os irmãos reuniram-se todos e, conscientes de que não tinham volta a dar, mandaram chamar a Tomásia.

A Tomásia, muito experiente nessas coisas da morte, com um ar séria, disse:

- Este não vai escapar, já esta com pés frios e tem cerro na garganta. É para dar-lhe o caldo de pombo para ele puder ter uma morte digna e descansado.

Afinal ela já tinha ajudado dezenas de doentes terminais a fechar a cadeira, Nate era mais um, portanto, foram à gaiola do Poló e pegaram um borracho bem fofo. Depois de picado, bem temperado e cozinhado, colocaram num prato esmalte e passaram-no à Tomásia. Com uma enorme delicadeza, com uma colher de sopa, ela começou a introduzir o caldo de burracho na boca do Nate. Cerca de três minutos depois, começou a escorrer um suor frio na testa do Nate, sinal de que o caldo passou-lhe a natureza. Morreu logo.

Chico, da janela, apagou-lhe os olhos e ouviu-se um grito alto em coro dos irmãos, onde multidão começou a juntar.

Nate foi-se e o caldo de pombo fez milagres.

2 comentários:

  1. Gostei, estórias iguais às da minha "terra" que, por acaso, também é sua! Parabéns!

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    1. Rui,

      Obrigado e bem-vindo! Por estas andanças, um dias destes vamos pegar as estórias destas bandas.

      Umgrande abraço

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